Eu tinha oito anos quando meus pais se separaram. Lembro como se fosse hoje a conversa que ele teve comigo em frente ao colégio Perpétuo Socorro onde estudei a terceira série do então primário. Ele disse que estava se separando da minha mãe e não de mim e do meu irmão e que nada ia mudar isso.
Quando saímos de casa, fomos para um apartamento. Minha mãe, eu e meu irmão, que na época tinha seus quatro anos.
Essa memória me veio agora, em meio a madrugada. São quase três da manhã e estou acordada desde a uma, quando meu filho mais velho bateu na porta do meu quarto; mãe, tô sentindo aquilo de novo, ele disse.
Peguei meu terço, minha imagem de Nossa Senhora de Fátima, meu travesseiro e pulei pra cama dele.
Mas o que isso tem a ver com a minha lembrança? É que ele me disse que acordou com as pernas inquietas. E foi exatamente o que aconteceu comigo na minha primeira noite naquele apartamento.
Meus pés pegando fogo, um calor nas pernas. Na minha inocência, colocava os pés na pia do banheiro para ‘esfriar’. Não lembro de ter contato pra alguém isso, só da inquietude das pernas, do calor. Estava tendo uma crise de ansiedade aos oito anos. Não sabia como lidar.
Meu filho teve isso essa madrugada e eu estava lá, segurando na mão dele, rezando meu terço em seu peito, pedindo proteção, oferecendo meu colo e um comprimido de alprazolam. Ele adormeceu, eu continuo acordada, brigando com essas lembranças.
A ansiedade, Ah a ansiedade. Vai ficar tudo bem, meu filho…